20080929

Vamos, vamos... Fui!... Cheguei!

Foi anunciada meses antes, mas só faltando bem pouco Eu decidi me inscrever. Coisa de duas semanas ou menos. "Tenho que fazer abdominais, pelo menos...", era um pensamento quase diário. Você fez? Porque Eu não fiz! E ainda tive a audácia de aperecer lá no dia!

E vamos "Nóisz". Acordei tarde, como previsto, porém descansado. A rotina de sempre até às 1300 h e 1330 h Eu lá. Muito cedo... Vou pra ali, vou pra acolá... Muito alongamento... um pouco de cochilo...

Aproxima-se o momento. A conversa com outros participantes não anima muito... A suposta adrenalina que deveria sentir por essa participação inédita(!) simplesmente não é liberada. Acho que sequer foi produzida. Alonga, alonga, estica... Vamos! todos a postos! Boa sorte a todos! Vão!!! Fui!

A primeira ladeira foi de assustar. Muito inclinada,  com muita lama mas Eu vi o caminho por qual tinha que passar. A subida foi fácil. Fácil até demais. Achei estranho mas continuei. controle a respiração! Não se esgote todo de vez, ainda falta muito muito! Uma curva, duas... passo alguns, algumas, e continuo.

Não dou muita atenção pros outros participantes. Nem mesmo aquela loira muito bôa... Passei direto. Antes tivesse falado "Oi"!

Próximo do retorno tem mais uma ladeira. Aproveito o embalo e desperdiço um bocado de energia com passadas largas e quase saltitantes, fazendo um zigue-zague desnecessário na pista enquanto outros voltavam.

Freia! Freia! Entrega! Pega! Ouve! Corre! Retoma aceleração!! Não dá! Garganta seca! Um gole, dois. Ai! Um pouco na cara pra esfriar... Opa! Esfriei demais! Que choque! Mais um gole! Oi. Tchau! Oi. Tchau! Vamos, vamos. Mais um pouco pra próxima curva... arff, arf... Redução. Mas continuo. Passa um, dois, três... Uma, duas, três... Oi. Tchau! - Agora foi ele quem falou.

Caminha, caminha... não posso me decepcionar. Estou aqui pra ir até o fim. Além do mais, como me decepcionar, se não esperava nada? Relaxa!

Relax! Pode ir? Vamos ver... pernas, ombros, diafragma... tudo em ordem - ou quase! Vamos! Passei dois, mais um, mais outro, calma! Mantenha o ritmo que chega! A loira passou! A loira passou! Vamos atrá dela! Ela corre muito! É mais constante. Isso! Faltou isso! Constância!

Continua. Desce! Sobe! Oi, gente! - É só um aceno, mas tira ritmo. Agradeço o incentivo zombeteiro que Eu próprio estimulei. Tem uma curva, entramos, "Oi, Chefia!" Outra curva, mais curva, e com ladeira. Desce, desce, devagar... Agora, força pra subir. Passou mais um. Ah! Quem está contando?

Vai, vai, mais curva com ladeira! Arf! Outra ladeira e outra curva! "Olha ele lá!", "Mas você hein, rapaz!". Não sei o que querem dizer, mas é comigo.

Êeee! Claps, claps! Viva Ele! Lá vem outro! É o fim! Não. Repor, estirar, lavar, trocar, voltar. "E o Oscar, vai para..." Peraê, esse é outro... Em terceiro..., em seundo..., em primeiro... Claps, claps pra todos...

Em terceiro... Eu! "Não, desculpe, em segundo..." Eu!

"Segundo?!? Tá ótimo!!! Maravilhoso! Já foi muito bom chegar! Classificado, melhor ainda!" 

Sobe, faz pose, flash, desce!

Acabou! Recolher equipamento. Ei, não tô trabalhando! Mas tô alugando o setor, rsrsrs.

Acabou! Eu cheguei! É isso que importa!

20080921

Conhaque Queimado

Eu estava dormindo e acordei vagorosamente com este sonho:

Havia acontecido alguma coisa em um hospital. Uma espécie de seqüestro ou invasão que não vem muito ao caso. Estava tomado por bandidos e forças especiais da policia já adentraram o prédio para tentar contê-los.

Um dos policiais é meu amigo e a dado momento, algo na operação da polícia sai errado e vários policiais ficam feridos dentro do prédio do hospital. Aí então Eu resolvo entrar para salvar meu amigo – que até agora não lembro se existe no mundo real.
Entrei com um uniforme pesado da polícia, mesmo não sendo policial – o que me fez pensar que sim, logo que despertei por completo. E entrei com fúria. Não sei a extensão dos estragos que causei, mas sei do que aconteceu comigo.

Não o recordo o momento exato – se é que isso existe em sonho – nem o modo que encontrei meu amigo/colega, mas ele já estava bastante ferido, deitado, sangrando. Também não lembro porque, mas Eu também estava deitado, ao lado dele, mas ainda inteiro.


Após isso, lembro apenas de estarmos sendo levados de maca para uma mesma sala. Eu dizia a ele para ser forte e resistir que não era a hora dele e coisas desse tipo que se diz nessas horas. Enquanto Eu dizia isso, notei que estava nu e com o corpo queimado. Chamuscado é mais preciso.


Repentinamente entra uma enfermeira jovem, bonita, atraente, cabelos loiros e batom vermelho; ela nos cobre, cada um com um lençol branco de hospital. Só então Eu percebo que a sala é muito branca e está quase vazia, exceto por alguns objetos não identificados por mim em canto e, agora, por nossas macas.


A seguir me dou conta de que meu amigo morreu.


Em vista disso Eu saio do quarto, ainda nu e sujo dos eventos recentes e não notando nenhuma presença na ante-sala, sigo por um dos corredores em busca não sei exatamente do quê.


Passo por algumas portas, sem notar que o hospital está estranhamente limpo e calmo, para um ambiente que passou recentemente por uma tragédia.


Entro num banheiro masculino adaptado para deficientes físicos. Dou uma volta pelo enorme banheiro e comento algo sobre ser chique demais para um banheiro, com mesas como as de restaurante prontas para serem servidas. Há até um prato com algumas bolachas de sal retangulares, com guardanapo e flor. Pego uma e sigo adiante.


Passando ao redor de uma coluna/parede chego finalmente à parte sanitária do “banheiro”. Aproveito para urinar e enquanto estou fazendo isso, entram duas senhoras (?) conversando alto e de repente, uma delas reclama de um cheiro de conhaque queimado que estaria permeando o ar do banheiro. Não sei por que, mas de imediato, identifiquei que a fonte de tal cheiro era Eu.


Uma delas encosta-se numa das pias que fica oposta ao mictório que estou usando e começa a olhar por cima da parede baixa. Percebendo esse movimento Eu me levanto um pouco e faço “Buu!” e solto uma risada estranha – com a boca cheia de bolacha – enquanto a senhora foge.


Daí, passo a perambular pelos corredores como se não me importasse de estar nu, sujo, ou mesmo fedendo a conhaque queimado. Então subitamente percebo que Eu também estou morto!


Não me parece tão espantoso assim e continuo a perambular pelos corredores alvos do hospital, levando o cheiro de conhaque queimado a todo lugar.


Só me é estranho que ninguém me perceba diretamente. É como se Eu sentisse falta das pessoas me olharem nos olhos para que Eu fugisse de seus olhares. Agora são as outras pessoas todas que “fogem” do meu olhar.


Com o passar do tempo começo a estranhar também a “ausência” de outros fantasmas. Não os vejo em lugar nenhum do hospital. É como se Eu estivesse numa espécie de limbo particular. Uma metade de caminho.


Espantando-me com essa conclusão decido que apenas tenho o espírito fora do corpo e tento voltar para ele. Penso que posso precisar de cuidados urgentes, então providencio chamar a atenção de uma enfermeira que passa.


Pouco antes de “entrar em mim” olho mais uma vez para meu amigo/colega, perguntando-me se ele também não poderia voltar. O estado geral dele me diz que é tarde demais. E o espírito dele nem esta mais por perto…


Assim que a enfermeira entra, Eu dou-me um soco no peito, ou melhor, meu espírito faz isso a meu corpo, e Eu “entro”. Tenho aquele primeiro inspirar, forte e dolorido de quem ficou muito tempo sem respirar, sem usar os pulmões.


O esforço também me faz abrir os olhos e sentar para tossir enquanto afasto o lençol que agora me parece muito plástico. Ouço a enfermeira falar algo sobre um forte cheiro de conhaque queimado, na sua curta corrida alvoroçada, da porta ao meu leito.



Acho que é nesse momento que acordo e começo a tomar consciência do sonho.



Não me lembro do que a enfermeira fez. Não me lembro se vieram médicos. Mas tenha sido como foi, continuo morto. E ainda perambulo pelos corredores do hospital.

Entretanto, agora só de vez em quando é que reclamam do cheiro de conhaque queimado em alguma sala que estou ou estive recentemente. Ao que parece, não ter voltado à vida material me fez “perder forças”.


Continuo pairando sem rumo e sem objetivo dentro do hospital, como que aguardando algum acontecimento ou alguém para me resgatar deste limbo. Mas nada!


Passa o tempo e de repente vejo uma colega da universidade. Cumprimento-a sem me importar – embora me dê conta – de estar nu, sujo e fedendo a conhaque queimado. Ela responde com um sorriso.


Pergunto algo sobre o porquê dela estar ali ela responde “Eu não agüentei…” apontando para o coração. Então Eu pergunto algo sobre ela estar nova demais para isso, embora pertença ao grupo de risco dos obesos, e ela diz que já se passaram muito anos, décadas desde minha morte. Nesse momento sua figura jovial que Eu conheci se transforma (se atualiza) para a senhora de idade que ela se tornou em vida.


Então, pressentindo algo nós nos soltamos e ela diz, ainda com ar jovial, que precisa ir e Eu digo “Vá lá, querida. Boa viagem!”, enquanto a ante-sala – a mesma do quarto em que ficamos Eu e meu amigo/colega – se torna mais e mais clara até que ela some no clarão e em seguida o clarão some também.


Repentinamente esse encontro me desperta para algo que vi num filme não havia lembrado esses anos todos como fantasma. Tinha me despedir das pessoas, o que também significava assombrá-las um pouco. Mas, naquele momento isso se fazia necessário para que Eu fosse embora definitivamente.


“Eu tenho responsabilidades aqui, como vivo. E quero concluí-las ainda vivo. Se não, terei de voltar morto para isso.” Passou-me esse pensamento pela mente e comecei a ver todos os fantasmas que perambulavam também pelo hospital, sem rumo, sem se dar conta de sua situação…


“Tenho que voltar para casa”, pensei. “Minha mãe precisa de mim”, e abandonei o hospital, finalmente.


Não tenho lembranças do caminho. Como num filme, a cena corta para minha casa. Estou na sala. A mesma em que durmo durante esse sonho agora dirigido por minha consciência quase desperta.


Muito espíritos rondam a casa e muitos deles estão perturbando minha mãe que resiste firme à loucura em suas atividades. Entretanto minha presença a abalou. Ela senta e chora, como se tivesse percebido o retorno do filho, apesar de não poder ver-me.


Ela também sente o cheiro de conhaque queimado, e balbucia isso com a voz embriagada de repentino sono. “Antes Eu dizia que era só cansaço… mas agora vejo que é mais.” Eu penso enquanto a observo sentar-se na cama mas recusar-se a deitar.


Nisso minha atenção volta-se para os espíritos em redor que parecem não se dar conta de mim, O Homem, O Dono, O Senhor da Casa.


Eu me enfureço e ao mesmo tempo não sinto fúria. É porque não é fúria. É energização. Parece fúria porque Eu grito. Mas sei que não é porque estou calmo e ciente do que estou fazendo.


No meu grito, todos os espíritos voltam seus olhares e suas atenções para mim. Eu me inflamo… não… combusto-me e dou-lhes ordem para afastarem-se de minha Mãe e de minha casa. E os ataco com golpes flamejantes. Tenho um para cada. E eles não são páreo para mim.


Minha revolta faz um redemoinho de fogo em volta da minha Mãe que os afasta de vez. Por fim, sobra um. O mais desaforado e que menos se importou com minha presença e com meus atos esta sobre os ombros de minha Mãe forçando-a para baixo e ela a resistir.


A figura é de um homem alto e forte, mas não me amedronta. Eu simplesmente encosto-me a ele e “puxando-o pela camisa” pergunto/grito “Como ousa?!?” Ele se transfigura no meu pai e logo volta sua forma. Isso me faz hesitar, mas não o suficiente para ele tomar qualquer atitude. Quem toma sou Eu.


Lanço-o no redemoinho para que seja levado para longe, tal como os outros foram…


Permaneço junto a Ela que finalmente deita para descansar. Eu vou ao telefone e ligo para minha Irma e digo a ela para se aclamar – pois percebo que reconheceu minha voz e começa a chorar – e que depois de calma venha para casa, tomar conta de nossa Mãe.


Eu ainda fico alguns momentos com minha Mãe antes de decidir ir à outra cidade fazer outra visita…


Então decido que não estou gostando mais desse sonho e ativo as outras partes da consciência ainda adormecidas e levanto para beber água. Bebo. Vou ao banheiro mas paro antes, na área de serviço que chamamos de quintal e me alivio no ralo do esgoto, lembrando que as gatas dormem sobre a tampa do vaso…


Volto à cozinha e bebo mais água. O sonho não me sai da cabeça e decido registrá-lo. Pego uma caneca e encho com café, que esta muito doce. Mesmo assim, ponho achocolatado, volto à sala e ligo o computador…



21.09.2008 03h39min

20080914

Willkommen

Turbilhões mentais permeiam-me. Quero dormir. Quero comer. Quero beber. Quero...
Quero não apenas querer...
Meus dentes doem por causa do aparelho ortodôntico recém-colocado. Não ligo, estou quase acostumado a essa dor, que já não é dor.
Alguns minutos atrás estava tentando me convencer de a dor não existe. Cheguei, sim, à conclusão de que ela existe! É participante ativa de nossas vidas! Modificadora de atitudes! E dve ser vivenciada.
Uma dor indica um problema a ser solucionado. Alguma coisa que precisa de reparos... de cuidados...
A madrugada chegou e se foi levando minha promessa não cumprida de dormir cedo para descansar para amanhã que já é hoje.
Quero ver a corrida de hoje. Promete muitas surpresas, e embora Eu não goste de surpresas, elas me agradam, vez ou outra.
Agora a pouco passou Ideologia (Cazuza) na streaming radio. Pareço-me tão bobo tentando ser técnico até nas bobagens que devem ser não-técnicas...
Já vejo a claridade por baixo da porta anunciando que precisarei desesperadamente dormir se quiser ficar acordado. Os pássaros já cantam lá fora, e os escuto apesar dos fones. Logo as gatas começarão a zunhar a porta pedindo para entrar e comer sua ração que as condiccionamos alimentarem-se.
Sentimentos e necessidades reviram-se nessas horas...
Eu sinto uma dor...
Eu sou uma dor...?
...