20100701

Torturas Silenciosas

     Barulho. Taí uma coisa da qual Eu, conscientemente, nunca gostei.
     Não sei porque, mas sinto, hoje ainda mais, que a uma das "grandes coisas" valorizadas atualmente é a capacidade de fazer barulho. Apesar de toda a nossa "civilidade", "boas maneiras", etc, continua valendo a Lei do Grito. Porque para mostrar que sou mais forte que você eu grito, e se você gritar eu grito mais alto, porque então, além de forte, você vê que eu posso estourar meus pulmões mais rápido também.
     Acho que sou uma pessoa antiga nascida no tempo errado. Eu deveria ter vindo uns 40 anos atrás, pra hoje Eu ser um daqueles clássicos idosos reclamões. Mas aí Eu seria mais velho que minha mãe e entraria num tipo de paradoxo que não estou afim de desenvolver discussão agora. Um dia, talvez.

     Mas, afinal, por que tanto barulho? O audível não é mais suficiente? Por que Eu tenho que escutar o mesmo que meu vizinho, dois andares abaixo e uma casa de distância? Por que que EU, estando no meu quarto, tenho que ouvir o mesmo que meu familiar que está no andar de cima? E olha que nem estou falando de preferências musicais (ou falta delas - mais recorrente)!

     Hoje Eu creio que cheguei a um... indício(!) da provável resposta. Digo isso porque me acho Burro. É! Burro! No sentido de Ignorante dos Conhecimentos das Coisas. Não sei até onde vai minha capacidade intelectual (alguém sabe a sua?) mas sei que é insuficiente para saber alguma coisa com Certeza. No máximo, acredita-se em 'algo' até que outro 'algo' se prove mais crível.
     Entretanto, apesar de ser Burro, sempre Me questionei sobre minha Burrice e sobre outras coisas também. Desde que Me lembro (e considero isso uma grande façanha de Minha parte!) Eu desejo saber o "porquê" das coisas serem/acontecerem.
     Sempre quis saber. Sempre Me questionei e questionei outros. Se não questionei mais foi por timidez ou distração. Por isso mesmo sempre fui só. Estava pelos cantos enquanto todos "se divertiam" com as "atividades normais" de todo ser humano. Eu estava pensando.
     Uma frase de uma tia resume bem o pensamento da família a meu respeito: tadinho... (com direito a voz infantilizada - que Eu detesto - muxôxo, cara de pena e pose de "vou te dar uma esmola, cê qué?!").
     Mas seja lá o que for que bateram na minha cabeça, funcionou: Eu passo a maior parte do tempo com  Meus pensamentos (e um ruído chato de gente conversando ao redor, por mais distante que estejam).
     Para Mim, o mais interessante foi achar que Eu tinha uma ótima audição, por isso não suportava ruído, e descobrir, no mesmo instante que minha audição é normal, talvez até com uma tendência precoce à surdez. As informações importantes do dia-a-dia, como onde está o dinheiro de tal conta pra pagar no mesmo dia, são-me passadas quase aos sussurros. Mas a última fofoca da novela ou do bate-boca do vizinho com a esposa, saem anunciando pela casa toda!
     Eu cansei de falar que NÃO Gosto de barulho, que Me desconcentra, Me irrita(!) e ainda provoca outras reações adversas em Mim e nas próprias pessoas ruidosas! Mas...
     Mas hoje, enquanto Eu buscava concentração para estudar Kant (que é um filósofo "facílimo" de entender) ouvia o ruído da televisão num programa que Eu não dou a mínima. Então a pessoa que, supostamente(!), estava assistindo, se arruma, diz que vai sair nem sei pra onde, e sai. E a tv fica ligada em volume suficiente  apenas para ser ouvido do cômodo mais distante da casa (bem perto, uns 8 m em linha reta através do piso de concreto...)
     Como sou Paranóico (além de Burro! Tenho várias dessas "virtudes") abaixo o volume e desligo o aparelho. A pessoa volta alguns muitos minutos depois, liga-o, aumenta o volume para que um eventual pedestre ouça da calçada mesmo (idem), muda a arrumação e torna a sair. Mas como sou Burro! Por que não pensei nisso antes!?? Enquanto estudo e ouço música no computador posso ouvir a novela, já que Eu sentei detrás da tv e não posso vê-la!
     Foi então que refletindo a respeito (já que sou Burro, tenho que pensar bastante até entender mesmo as coisas mais óbvias) percebi que as pessoas de modo geral tem medo de seus próprios pensamentos! Elas tem medo de se descobrirem sozinhas em suas mentes com esse ente sobrenatural que é o Eco da Própria Voz! (medo)
     Esse ser assustador deve ser capaz de coisas inominavelmente abomináveis! Mas ninguém sabe realmente porque estão todos protegidos enquanto mantiverem seu aparelhos de ruído em alto volume para espantar esse ser pavoroso!
     E então confirmei mais uma paranóia minha: Eu sou um psicopata! Claro! Quem mais iria querer estudar no silêncio ou com aparelhos produzindo ruídos audíveis somente a curta distância? (curta distância, para pessoas normais, nesse caso, é algo em torno de 10 cm a 15 cm - é isso mesmo, "cm" de "centímetros")
     Parece até bobagem, não é, escrever tanto para uma revelação fajuta dessa! Eu me sinto bobo agora que escrevi! Mas por favor, compreenda, Eu sou Burro!