Um grande dragão flutuava no ar lendo pornografia enquanto se lamentava tristemente por não possuir um pênis – órgão do qual os répteis são naturalmente destituídos. Em sua astuta grandiosidade, um pernilongo fêmea desfrutava de um belo banquete (em sua opinião) na parte de trás de um dos chifres do dragão, mais precisamente, dentro do sulco (que lhe aparecia como um imenso vale) de onde tal chifre se projetava.
Abençoadas são, pois, as libélulas e mariposas que gostam de luz – porque as mariposas mais belas são as preferidas dos pássaros! E, durante o enroscar sibilante das cobras pelas pernas do dragão, águias longínquas são tentadas com banquetes poderosamente protegidos – nisso o dragão ajeita os óculos com a ponta da garra e limpa a garganta com um pigarro fumegante, completamente alheio ao inseto em seu chifre, mas sabedor de cada pena aquilina, vigilantes de suas pernas; mesmo estando imerso em sua leitura cultural.
As borboletas que arriscaram aproximação ficaram presas pelo olhar hipnotizante das cobras porque os tigres de bengala preferiam jogar xadrez: cheque mate! Gritavam uns para os outros de tempos em tempos, exasperados pela soltura de suas intimidantes dentaduras.
Mas porque aquele pardal nunca se casara é o que realmente perturbava a paz harmônica do céu beligerante. Talvez porque fosse gay, argumentava, incredúla, um pardal fêmea; talvez porque não fosse pardal, questionava uma tanajura.
– E o que é que você entende de pardais? – perguntava uma amiga da pardal, num tom excessivamente desdenhoso.
– Realmente nada, mas entendo de corvos e teias de aranhas. – retrucava a tanajura, perigosamente dando as costas para as pardais estupefatas com a audácia dela em não lhes responder diretamente.
Foi assim que o galo contou a perua tão pavoneamente que assustou o tatu.