20120925

Adolescência Comum

     João era um adolescente comum, com problemas comuns a todo adolescente como ele: comum. Cheio de medos, curiosidades, inseguranças e (muitos) "achismos". O excesso de ordinariedade de João, entretanto, era superficial (não que ele não tivesse realmente esses problemas todos!) porque João era uma pessoa mais profunda do que se via; apenas não demonstrava.
     João era um adolescente típico, cujos medos lhe atrapalhavam os sonhos mas também os fazia render, expandir, mas não explodir. Sim, ele tinha sonhos. Os sonhos típicos dos adolescentes comuns: ter namorada, sair da escola, seguir o circo, fugir de moto, ganhar dinheiro, comprar mil coisas inúteis (que só teriam sua inutilidade comprovada quando se tomasse posse), ter habilitação veicular, beber até coir e levantar para beber mais, etc., etc. Tudo muito comum.
   João também tinha, como é comum aos adolescentes (especialmente aos adolescentes comuns), sonhos de criança misturados aos sonhos de (quase) adulto; de salvar belas princesas delicadas - matando muitos monstros terríveis no caminho, porque assim mostraria à cada princesa seu valor - de ser alienígena em visita à Terra, de ser super-herói, de ser mutante, de ser vilão que fica bom, etc., etc.
     João, claro!, tinha seu sonho preferido: ser um samurai. Não qualquer um, não! Era pra ser o melhor samurai, com a melhor armadura, a melhor katana, a melhor técnica...
     João desejava ser samurai, mas não tinha como pelos meios convencionais (grana curta, resultados de pesquisas na internet insuficientes, falta de um mestre... era empecilhiço demais para um sonho só! magine os outros?!).
     João então estudava (ia para a escola, na verdade...), caminhava de volta para casa e sonhava acordado. E adorava quando ameaçava chover e não chovia porque podia levar o guarda-chuva (desculpe-me: a "katana") sem parecer ridículo.
     João não era dado a exageros, de modo que eram raras as vezes em que era surpreendido a katana (desculpe-me: o "guarda-chuva") em punho, na posição de golpear.
     João lia bastante, e sempre encontrava em suas leituras, livros indizivelmente abrangentes quando o assunto era cowboys, ninjas, (super-)heróis, etc.
     João, certo dia estava entediado em seu quarto, depois de ter chegado da escola. Não se lembrava de nada que lhe fosse importante para fazer àquele dia. Estava tudo comumente normal. Como era de esperar de um dia como aquele...
     João então saiu da cadeira e dirigiu-se para ao canto do quarto. E lá, ele também percebia como era comum, reles... Sem nada de especial  (assim pensava João).
     João pegou então  guarda-chuva  (desculpe-me:  "a katana")  e maravilhou-se com rasgo que conseguiu fazer no ar. De um salto, atravessou a fenda, que se fechou sozinha ao longo da tarde, mas nenhum outro ser a atravessou - nem para fora, nem para dentro!
     João não mandou notícias. Desde aquilo que ninguém mais o viu. Nem ele nem guarda-chuva (desculpe-me: a "katana").