20110228

Camarones Coloniais de Acajú Guitarrístico

“Por que Eu não fui falar com ela?” Era o pensamento que perpassava pela minha cabeça quando me peguei em depressão no meio de uma festa. Ela é a perfeita baixista da última banda que tocou e acabou de sair do meu lado. Ela sentou bem ao meu lado. Levantou e sentou à minha frente, ao lado de alguém do backstage. Então ele levantou, ela levantou, e Eu, reles mortal, permaneci, a vendo ir sem falar com ela que Eu a amava desde sempre e queria passar o resto dos meus dias a ouvindo tocar.
E ela foi. E Eu fiquei pensando “por quê? por quê?” Mas ela foi, e talvez para sempre (!) – sabe-se lá quando a banda vai passar por aqui de novo? Perdi essa chance, de ser homem suficiente para dizer para uma mulher maravilhosa que Eu a amo desde a primeira vez que a vi. Que fui atraído por aquele belíssimo sorriso que resplandecia a malícia de uma menina que já sabia ser mulher. Que percorri mentalmente todas as perigosas curvas de sua sensualidade nauseante; que desejava invadir sua linda cabeleira de cachos dourados e hipnóticos movimentos impulsionados pelo seu belo pescoço sustido naqueles ombros fortes o suficiente para o instrumento em suas mãos, mas igualmente delicados ao toque que… que… Que Eu jamais teria…
Alguns minutos apenas de depressão, pois logo minhas amigas vêm me resgatar do limbo de volta ao meio humano:
- “vem, seu anti-social!”
“Eu só estava descansando” Eu quase disse. Quase. De novo. Por que Eu faço isso? Não sei. Mas eis que a baixista passa por mim e, então, Eu toco seu ombro e dizendo “oi” abraço-a:
- O show de vocês foi ótimo! E você tava perfeita lá!
- Que bom que vocês gostaram!
- Gostei muito!
- Obrigada!
- Disponha! Até mais!
“Falei! Eu falei! Eu falei com ela! Eu falei com ela! Eu falei com ela!” Eu quase dei um pulo de tanta felicidade. Quase não acreditava que era Eu mesmo. E nem dava pra culpar o álcool, que não era tanto assim.
- Eu falei com a baixista. Eu falei com ela. – Eu disse enquanto me fingia de abobalhado pra minha amiga (a outra já tinha desaparecido no público).
- E por que não ficou com ela? Não tava apaixonado?
- Não. Eu me apaixonei por ela, mas nem tanto. – E com isso Eu queria mesmo era dizer que achei lindo a maneira apaixonada e apaixonante que ela tocou – e que Eu jamais vira nada assim antes.
Conversas. Conversas. Umas somem para um lado. Outras somem para outro. Voltas e voltas. Eu sento. A próxima banda não me animou tanto a pular. A cerveja acabou “mas daqui a pouco chega mais”, diz o vendedor. Eu sento. Um tempo só e a cerveja volta. Eu pego uma e sento de novo.
Levanta. Conversa. E sento de novo. Ainda tem cerveja na lata. Mais um pouco e minha amiga volta. Isso e aquilo.
- Ai! com frio!
Eu passo o braço sobre seus ombros, com o punho fechado. Eu sou quente, mas a cerveja é gelada e estava a pouco na minha mão.
A banda de agora é boa. Bem mais agitada e empolgante que a anterior. Estou quase indo lá. Mas estou cansado. Faz tempo que não vou a show nenhum. Mais de mês…
Blá blá blá, blá blá blá…
- Às vezes penso que Eu deveria ter nascido mulher… - Eu viajo…
Blá blá blá, blá blá blá…
- Se Eu te beijar agora estraga nossa amizade? – Ela quer saber.
- Claro que não! Pra mim não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Lábios macios encontram os meus. Suaves. Molhados. Doces. Voluptuosidade levemente contida. Um toque longo. Três toques curtos. Um toque looooongo. – Lembrando agora, até parece Morse. Sua língua acolhe a minha. Eu ponho a lata do lado, completo o abraço. Quente. Ela se torce. Eu me viro mais pro seu lado. Esquento minha mão em suas costelas que o vestido não me deixa contar enquanto passeio para suas costas macias e firmes, a outra em apoio a sua coluna delicada, esta sentindo sua omoplata e a junção com o braço que forma o ombro perfeitamente delineado para permitir o caminho até o pescoço e a nuca com seus cabelos finos se entrelaçando em meus dedos úmidos, a outra contornando sua cintura para sentir as mesmas costelas de antes e aproximá-la mais, costelas, quase a ergo, ela passeia a mão no meu cabelo, diafragma, um pouco mais e ela estará no meu colo, cintura, a outra mão fingindo lutar com os cabelos, uma pequena pressão, minha mão desce até o meio das costas, ela afasta cabeça, a pressionante folga o aperto, outro toque nos lábios acompanhado de um sorriso, minhas mãos em sua cintura, ela beija meu pescoço e se aperta em mim numa cumplicidade que jamais tivemos antes, mas que agora é eterna: ela se soltou de sua prisão e precisava se divertir; Eu precisava de alguém que precisasse se divertir.
Essa banda é a última e o show já está no meio. Vamos pro “meio”. Ficar em pé e pular um pouco para esquentar.
Ela vai à frente. Pára e me faz abraçá-la. Balançamos no ritmo da música. Desencontrados. Seguro seus quadris e colo meu tórax nas suas costas. Então percebo que nos movemos como um só. Eu sinto cada músculo dela se contrair e relaxar para manter o balanço, e no flash de um pensamento não sei mais se os meus músculos ou os dela que estão mexendo nossos corpos num tique-taque sutil e deliciosamente compassado com as batidas da bateria que ecoam nas guitarras arremessadas pelos saxofones e trompetes no frio da noite de um dia calorento.
As músicas se alternam. Nós nos alternamos em dança e beijos. A cada volta que ela faz um sorriso, um abraço e um beijo que se prolongam infinitamente até a próxima volta. Eu a abraço novamente e volto a sentir que suas coxas disputam espaço entre as minhas, seu quadril vibra junto ao meu, seu peito se enche e esvazia sobre o meu seguindo ela do inspirar ao expirar, a parte posterior de seu crânio bem delineado apoiado na minha fronte, Eu vendo o show por entre seus cabelos que me servem de véu, seu perfume não se mescla com os odores do ambiente para me inebriar enquanto percebo isso tudo em frações de décimos milimetrados na inconsciência da presença única dela em meio a tanta gente que me rodeia.
Uma música acaba. Eu a puxo para trás e saio para contornar-lhe a cintura e segurar firme e delicadamente na base do seu crânio enquanto observo, pouco antes de fechar os olhos, que ela sorri surpresa pela ação, e voltamos à vertical num beijo suspirante e resfolegado que sequencia outro e mais outros.
Naquele momento sei que ela é “minha mulher”. Ela é a mulher da minha vida. Aquela por quem esperei por toda a vida e da qual jamais vou me afastar por um segundo só que seja! É ela por quem moverei céus e terras e enfrentarei quantos deuses forem necessários para continuar amando por toda a infinitude da existência.
Enquanto dançamos nos beijando, Eu vejo às vezes que ainda existe um chão, ainda há pessoas ao redor, ainda há um palco com uma banda, e nos beijamos dançando.
O show se aproxima do fim. Foi além do horário estipulado. Mas está bom demais para acabar agora. Mas tem que acabar. E vai.
Saímos na última canção, embalados por beijos e abraços que se desfazem em cumprimentos aos amigos e no caminhar para os portões.
No caminho de retorno, blá-blá-blás de importância, de relevância, divertidos, alguns mais, outros menos, e outros menos ainda.
- Tchau, meu bem!
- Tchau, querida! Se cuida!
Naquele momento Ela era para Mim e Eu era para Ela.  Éramos dois em perfeito movimento sincrônico de embevecente harmonia luxuriosa.
Mas a festa acabou. A noite já se foi. Temos que dormir. Temos que sonhar. E temos que cumprir as promessas que fazemos. E Eu fiz duas: que seremos amigos é uma. Que estarei sempre à disposição é a outra.

20110203

Escreva Lola Escreva: GUEST POST: BULLYING QUE SOFRI FOI RACISTA

Esse é um relato muito legal sobre o processo de trauma e a (difícil) cura pela autoaceitação.

Eu experimento algo parecido - mas bem mais ameno para mim - na minha família: meu cabelo é (supostamente) bom por ser um tipo de encaracolado que tem alguma coisa que Eu não sei o que é; minha irmã tem cabelo crespo, mas vive de penteados desde os 7 ou 8 anos (atualmente, só na escova/chapa).

Passei por outra com minha última namorada, um poço de negação de si mesma. Ela é linda, tem cabelo de liso para ondulado e é uma ótima pessoa. Mas não aceita que é gorda e vive alisando o cabelo (não sei o que, exatamente ela alisa... Eu acho que é só para bater papo e esquentar a cabeça - literalmente!)

Muito grato, Lola!

Escreva Lola Escreva: GUEST POST: BULLYING QUE SOFRI FOI RACISTA: "A Mariana (que você pode seguir no Twitter pelo @marielux) tem 24 anos, é publicitária e mora no Rio. Ela me enviou um relato muito interess..."